ENTREVISTA - ALAN PIRES


Nascido em São Paulo. 15 anos de carreira. Em 1996 criou o Grupo Amadododito. Estudante da formação teatral SENAC. No grupo leciona ocinas teatrais. Como autor e diretor realizou os espetáculos O Hospício (1996) e Eu Vou... (1997); como ator, O Mundo é um Palco (1997) e Diálogos Incidentais (1998); como diretor, Contando Histórias (2005/2006), Muiraquitã (2007 e 2009) e A Comédia do Coração (2008/2009).


Fragmentos: O que despertou seu interesse por teatro?

 
Alan Pires: Aos 12 anos eu era uma criança muito tímida, por esta razão minha mãe me colocou no teatro. Só que eu não tinha noção, assim como a maioria das pessoas, de que o mundo teatral era tão abrangente. É mais do que decorar um texto e subir no palco, é descobrir o valor humano. Sem dúvidas, o que mais me interessou no meio teatral foi a forma com que as pessoas são aceitas exatamente pelo que são, e não pelo o que a sociedade espera de cada ser.

 F: Como foi o início da sua carreira no teatro e como surgiu o Grupo Amadododito?

 
A.P: Minha carreira começou com um pequeno curso de Iniciação Teatral. Logo no início a paixão foi tanta que decidi que deveria formar a minha arte e criar os personagens que eu havia descoberto na minha mente, então logo com 14 anos resolvi montar o meu próprio grupo. Ele começou dentro da minha sala de aula, juntando os amigos mais próximos, mas quando vi já estava abrangendo os arredores do colégio e nunca mais quis parar.

 F: Como professor, e diretor teatral, qual é a importância da arte-educação na sua vida e o que você observa de relevante nessa experiência para a vida de seus alunos?

 
A.P: Costumo dizer que este é o real valor do meu trabalho: ver a transformação na vida de cada ser humano. Ver pessoas entrando totalmente tímidas, com bloqueios e problemas de relacionamento é o que me impulsiona para continuar o trabalho. O meio teatral é um ramo muito difícil de se manter somente com ele. Por diversas vezes pensei em largar tudo e simplesmente procurar o meu sustento, mas quando lembro de cada sorriso modicado, de cada vida transformada não tem como parar.

 F: Por que Amadododito?

 
A.P: Amadododito (amor no que é dito), pois o grupo ama o que faz!

 F: Existem muitas Leis e projetos de incentivo à cultura e empresas que patrocinam espetáculos e eventos culturais. Você já recebeu alguns desses incentivos?

 
A.P: Na verdade, o termo incentivo é totalmente errôneo quando se refere a esse tipo de Lei e de projetos, porque eles nos desacreditam do poder da arte. Claro que mando os meus projetos e me inscrevo em todas as oportunidades, mas desacreditado que um dia eles chegarão em minhas mãos. Concorrer com os espetáculos “Globais” (se referindo à Rede Globo de Televisão), é muito difícil, mas isto não impede que eu faça o meu trabalho. Eu nunca recebi incentivo nenhum de governo ou empresas, mas consigo realizar a minha arte com o apoio cultural de grandes empresas, que acreditam no meu trabalho, quase com o sentido de uma doação. Hoje em dia, os produtores culturais mais inuentes conseguem todos os incentivos e verbas liberadas pelo governo, e muitos deles montam os projetos, gastam os valores já sabendo do retorno. Espero um dia poder mudar esta minha visão.

 F: Qual a maior diculdade de viver e trabalhar com a arte no Brasil?

 
A.P: O fato mais complicado é a cultura do nosso País. Infelizmente somos uma população carente de arte e faturamento, e o veículo mais barato e mais acessível acaba sendo a televisão, que não tem nenhuma preocupação em educar e acaba simplesmente se preocupando com o entreter. Levar as pessoas até o teatro é um grande esforço. Ao mesmo tempo que conquistamos as pessoas que chegam até o nosso “templo sagrado”, a arte vai se formando de uma maneira tão desenfreada que muitos grupos acabam mostrando uma arte sem nenhum propósito ou fundamento, e afastam novamente as pessoas conquistadas para ir ao teatro, exposições etc. A arte tem que ser algo culturalmente relevante, e vejo que está na hora de repensarmos a grade da matéria Educação Artística nas escolas, onde abrange somente um pouco da amplitude do que é a arte em si.

 F: O que o Grupo Amadododito reserva para o futuro?

 
A.P: Podem ter a certeza que o Grupo Amadododito vai continuar com a sua visão de tornar todos os tipos de arte cada vez mais acessíveis a todos os seres humanos. Acabamos de assumir um novo espaço em São Paulo, que estamos transformando em um inovador Centro Cultural, com aulas de teatro, dança, música, artes plásticas. Além, obviamente, da apresentação destas artes dentro do nosso Espaço. Estão todos mais do que convidados a vir conferir o trabalho do meu grupo e de todos os outros artistas que pisarão dentro daquele Espaço.





∞ Neila Cássia Camargo do Nascimento


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